Os mercados europeus e mundiais têm-nos dado sinais claros de que, com a escassez de alguns produtos agrícolas, a Europa e o mundo vão ter de voltar (à semelhança do que aconteceu há muito tempo no passado) a olhar para a agricultura como uma actividade económica determinante para a economia de muitos países. A vários títulos. São cada vez mais claros os sinais de que a agricultura voltará a ser uma das principais actividades económicas à escala mundial. Por razões diversas. De procura. E de oferta. Quantitativas e qualitativas. E a Europa, em geral, e Portugal, em particular, vão ter de assumir a actividade agrícola como umas das suas prioridades. Não andarei longe da verdade se vaticinar que longe irão estar os tempos em que esta actividade económica era primária, e a generalidade dos agricultores irão deixar de ser olhados de soslaio e poderão voltar a ser vistos com outro estatuto, e esta actividade voltar a ser valorizada não só económica mas socialmente. Para além de voltar a permitir melhorar os rendimentos para as famílias e para todos aqueles que, directa ou indirectamente, trabalham no sector. Nada irá ficar igual. Mas atenção, é urgente, com estas novas oportunidades, que todo o sector agrícola português esteja à altura das suas responsabilidades e aposte na sua qualificação e numa melhor produção, numa diferente diversificação e na aposta em novos circuitos comerciais, sobretudo internacionais.
É um dos sectores com maior potencial, em especial a vitivinicultura. Como foi vaticinado há alguns anos, é um cluster a explorar e a valorizar. Pena é que nos últimos anos se tenham feito muitos diagnósticos, mas encontrado poucas respostas para potenciar o sector vitivinícola. Salvo honrosas e boas excepções de alguns produtores privados que se qualificaram e apostaram no profissionalismo e na criação de efectivos circuitos de comercialização (nacionais e internacionais), pouco foi feito ao nível das políticas públicas neste sector. Aliás, o Estado, infelizmente, quase se limitou a assistir e a conformar-se com alguma da agonia e a muita da perda da sua importância - não só económica mas também social. Nesse particular, o actual ministro da Agricultura é o exemplo de um responsável público com pouca vontade para inverter o actual estado das coisas. Como responsável, há cerca de 15 anos, pela realização do certame vitivinícola mais antigo de Portugal (o Festival do Vinho Português), entendo que temos de mudar este paradigma. Até porque temos (devemos) de aproveitar e potenciar o que de mais positivo existe nesta área. A saber, bons índices de comercialização do vinho nacional, uma boa evolução da produção vitivinícola por cada uma das respectivas regiões, índices positivos de evolução da produção nacional, boas performances ao nível das exportações, para além de outros bons indicadores. Penso, perante o actual cenário, que são mais as coisas positivas do que as negativas. O vinho e a agricultura portuguesa devem ser olhados como um dos subsectores da economia portuguesa com melhor potencial. O que lhe tem faltado são políticas públicas adequadas que se interliguem com o que de melhor o sector tem feito nos últimos anos. É por isso que, como responsável pelo Festival do Vinho Português nos últimos 15 anos, entendo que chegou o momento de se assumir a agricultura e a vitivinicultura como uma prioridade. |
João Carlos Barreiras Duarte
presidente da comissão organizadora do Festival do Vinho Português e vice-presidente da CM do Bombarral
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